domingo, 8 de abril de 2012

A Volta de "Cruel". Com Gianecchini, Erik Marmo e Maria Manoella

Enfim, segunda-feira. A semana não poderia começar melhor, sendo aberta por uma peça com significados múltiplos. Não aqueles imaginados por August Strindberg, quando escreveu a obra, nos fins do século XIX. Logo Strindberg! Realista cruel, descrente do ser-humano. Vivia num mundo recém saído do Romantismo. Seus textos eram claros quanto a suas crenças - ou melhor, descrenças. A natureza dos homens era vista como fria e individualista. Um mundo sem heróis, onde o bandido vence, e o mocinho sempre leva a pior. Era um tempo em que não se acreditava na sinceridade do amor ao próximo. Não se tinha esperança. No final, o bem perderia, e o mal sempre levaria a 'melhor'. Pois é, logo com Strindberg! Com certeza, em seus momentos mais crentes quanto às suas próprias descrenças, ele jamais imaginou o que a versão brasileira de "Creditors", dois séculos mais tarde, traria como significado. Hoje em cartaz como "Cruel", dirigida pelo brilhante Elias Andreato, a nova montagem tem nos atores Erik Marmo, Maria Manoella e Reynaldo Gianecchini um triângulo de gigantes. Em cena, eles vivem o mundo sórdido descrito por Strindberg. Um contraste com a realidade. Afinal, eles voltam aos palcos após os 7 meses da luta de Gianecchini pela vida. Uma luta que uniu religiões. Que colocou seres-humanos de joelhos, a orar pelo próximo. Que transformou um homem em herói. Quando as cortinas se abrem e os atores entram em cena, o público se emociona. Se em 1889 esta mesma peça era um símbolo do ceticismo, em 2012 sua volta ao teatro tornou-se um símbolo do amor e da Fé. O renascimento da esperança através de uma obra retratada em um mundo cruel.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

"Priscilla, a Rainha do Deserto". Fenomenal!!

Para quem é homofóbico, cuidado. Esta peça pode causar uma estranha sensação de liberdade. Vontade de sair dançando. De achar o preconceito coisa do passado. Afinal, a alegria é o tema, do início ao fim. No repertório, algumas das melhores músicas dançantes de todos os tempos. Logo no começo, "It's Raining Men", passando por Village People e Madonna - a maioria delas, em inglês, sem que se perca a compreensão do enredo. Em vários momentos da peça, três divas - dentre elas a pequena Simone Gutierrez - dão um show vocal, cantando suspensas, a 14 metros do chão. Belo pano de fundo para a aventura de três drag queens, vividas por Luciano Andrey, Ruben Gabira e o jovem André Torquato - que, de apenas 19 anos, brilha novamente em um Musical, como se fosse um veterano. A magnitude do cenário ergue-se além dos limites do palco. Espetáculo que enche os olhos e o peito. Vontade de gritar "bravo". Vontade de não acabar. Até mesmo quando se desvia o olhar, os coadjuvantes são puro luxo. Como Andrezza Massei e Lissah Martins - ambas em papéis hilários -, e Saulo Vasconcelos, que vive o gentil mecânico Bob, par romântico inusitado de uma das drags. O espetáculo vale a pena, do início fim. É rir e cantar - pena que não se pode dançar. Mas se alguém sair rebolando à saída do teatro, não estranhe. "Priscilla" é isso mesmo. Trata-se de uma legítima "Comédie Musicale."

"Tim Maia Não Morreu"

Com maré em alta, os espetáculos musicais de São Paulo estão praticamente todos lotados. Tornaram a sexta-feira o segundo dia da semana teatral paulistana. Casas grandes e sempre cheias. Produções "Broadwoodianas". Dentre elas, uma das mais disputadas, contudo, é uma obra 100% tipiniquim. Inspirado, e com mesmo nome do livro de Nelson Motta, "Tim Maia - Vale Tudo" é maravilhoso. Chora-se de rir. Chora-se de saudades. A história maluca e hilária de um gênio da música brasileira. Desde os tempos do marmiteiro Tião (Sebastião), os anos nos Estados Unidos, a convivência com amigos da música que estiveram ao seu lado no início - Roberto Carlos, Erasmo, Elis Regina, Ben Jor -, a vida em família, a criação de uma lenda. Até a morte no palco. Esse é o começo do show. E o show em si, 2h40min que representam os milésimos de segundos em que se vê a vida toda passar. Lampejos em frenética evolução cronológica, desembocando no final trágico e emocionante. A morte. O fim. O público com lágrimas nos olhos aplaude em pé. Mas não se pode negar: a emoção é ainda maior pela atuação impecável e fiel de Tiago Abravanel. Ele nos deixa com a mesma certeza quanto a Elvis, Lenon e Elis: "Tim Maia também não morreu".

terça-feira, 3 de abril de 2012

"The Wall" - Roger Waters in Sampa

Estádio do Morumbi lotado. Como num Musical - tamanho família -, as fotos eram controladas. Nada de flashes. Cada um no seu lugar. "Por favor, todos sentados" - diziam os folhetos. "O show irá começar sem atrasos" - anunciavam os alto-falantes. Um jeito bem britânico de contestação política. Tudo com regras. Obediência. Todos certinhos. No palco, por trás de um muro gigante em ruínas - às 21 horas, pontualmente - surgiu Roger Waters, trajando capa preta e fardas, alusão aos regimes extremistas do século XX. Na platéia, sem perceber, a atenção dos espectadores assemelhava-se à obediência dos seguidores fanáticos de Hitler e Stalin. O show era um todo. Uma apresentação performática fenomenal envolvendo público e artistas em um espetáculo único. Visto de um satélite no espaço, seria a certeza de se estar diante de um ato político de massa. Quem esteve presente sentiu o frio na espinha. A sensação de ser parte dessa massa. A vontade de lutar por um ideal: a queda dos muros do preconceito. "The Wall". O muro construído pelo homem, para separá-lo do próprio homem.

domingo, 1 de abril de 2012

Encerramento da peça "CINE CAMALEÃO - A BOCA DO LIXO"

Nesta segunda-feira, 2 de abril, Mel Lisboa se apresentará pela última vez antes de dar a luz a seu segundo filho - no caso, filha. Com barrigão de fim de gestação, Mel encara o desafio que se lançou no segundo semestre de 2011, quando decidiu trocar seu papel de grande sucesso na comédia "Mulheres Alteradas", pelo papel polêmico em "Cine Camaleão - A Boca do Lixo". Interpretando Wanda Scarlatti, uma atriz e produtora da época do cinema de pornochanchada, Mel brilhou, como de costume. O próprio nome da encenação já sugere seu tom alternativo e underground. O teatro onde é encenada também não foge ao tema, em pleno centro de São Paulo. A peça é excelente. Os atores, com atuações marcantes. E o enredo, extremamente fiel a sua história. Quem é fã da Mel, não pode deixar de ver. Quem é fã de arte, tão pouco!Locais e horáriosSede Luz do FaroesteEndereço:Rua Do Triunfo, 301Tel.: (011) 3362-8883Quando:(Sáb, Dom e Seg) Sábado, 21h; domingo e segunda, 19h. R$ 30,00 (antecipado, através de reserva por telefone). Na hora, o valor é definido pelo público no fim do espetáculo. De 07/01 a 02/04.

"A História de Nós 2"

Encerra hoje, no Teatro Gazeta, a temporada paulistana de "História de Nós 2". Tive a honra e o privilégio de assistir, ontem, à penúltima apresentação. Depois de seis meses em cartaz na cidade, a sessão de ontem - em clima de despedida - emocionou a atores e espectadores. Durante 90 minutos, o casal Maria Helena (Alexandra Richter) e Eduardo (Marcelo Valle) arrancam risadas deliciosas de todos na platéia. As nuances, os altos e baixos de uma relação a dois; o retrato das três fases do casamento: o início, o meio e o fim - e, após o fim, quem sabe um novo recomeço? E depois da cena final, ao baixar das cortinas, o público presente viu e ouviu às lagrimas a despedida do casal em São Paulo - com direito ao arrepiante discurso de ambos homenageando o show de ontem ao Paris 6. O casal, Lena e Edu, deixarão saudades. Aos que não assistiram, restam-lhes o consolo e a esperança, torcer e rezar pela volta da peça à nossa cidade. Parabéns e obrigado, Marcelo e Xanda!!